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DISSERTACAO DE MESTRADO. Memórias de Rio e de Gente. Ananda Martins.

Segundo o dicionário Houaiss de Língua Portuguesa (2006), a palavra lama designa
uma “mistura viscosa, pegajosa, de argila matéria orgânica e água, barro, lodo, visa” ou,
ainda, pode significar o “caráter daquilo que degrada, envergonha; ação vil, baixeza,
aviltamento”. Até o dia cinco de novembro de 2015, para mim esta palavra designava tão
somente uma matéria orgânica ou, metaforicamente, o estado de vida deteriorado, que leva
um indivíduo a se afundar em uma espécie de terra movediça da qual dificilmente emerge,
através da expressão “estar na lama”. Com o rompimento da barragem de Fundão em
Mariana, Minas Gerais (Brasil), a metáfora da deterioração que cabia à palavra lama cedeu
lugar à materialidade da destruição dos espaços das casas e das ruas dos vilarejos encobertos
pelos rejeitos de tonalidade marrom da mineradora Samarco. Desde aquela data, a lama
marcou os distritos de Mariana e Barra Longa, o rio Doce e o oceano Atlântico, desmanchou
construções, árvores e lugares de encontro e sobrepôs-se às cores das moradias, escolas,
comércios e igrejas construídos ao longo de séculos. Hoje, a materialidade da lama também
representa a força da destruição das atividades mineradoras em larga escala, que pode
sucumbir lugares e modos de vida. Lama é a palavra que marca a biografia das atingidas e
atingidos, por meio de uma linha que distingue suas vidas antes e após o rompimento da
barragem de Fundão.

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