DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. Imagens, cidade e o espetáculo. Gabriela Casadei
As cidades possuem histórias construídas e expressas por seu espaço físico e pelos agentes que nela habitam, sejam eles membros do poder público, de movimentos sociais ou da sociedade não organizada. Por consequência, as cidades possuem também instrução civilizadora e característica pedagógica, sendo capazes de ensinar, moldar valores e comportamentos, além de formar coletividades contra ou a favor do status quo. As cidades são como agentes informais educadores e seus habitantes aprendem de maneira espontânea por sua vivência cotidiana. A pedagogia da cidade se expressa no estilo de vida urbano, nos cenários, rituais, instituições e, em sentido mais amplo, “na relação entre o corpo urbano e o corpo cidadão” (NETA, 2016). (NETA, 2010)
“A pedagogia da e na cidade é possível pela conexão entre espaços, práticas e sensibilidades, a partir dos quais as cidades (in)visíveis se configuram pelas memórias e relatos acerca do aprendizado do estilo de vida urbano, do direito à cidade e sua função pedagógica, na cidade e sua hermenêutica, suas normas, condutas e postura sensível.” (NETA, 2016)
Na experiência da cidade a percebemos e sentimos, e na redundância e repetição de seus signos é possível “fixar alguma imagem na mente” (CALVINO, 1990, p. 23, apud NETA, 2016). A imagem potencializa o aprendizado da cidade, principalmente na sociedade do visual atual, sendo mais forte que as narrativas escritas ou verbais. A fotografia, por sua vez, é a materialização das intencionalidades subjetivas contidas na cidade. A produção e circulação dessas imagens constroem uma ideia de espaço e história visível da cidade com tanta pregnância que são capazes de serem confundidas com a realidade e afetarem as “cidades (in)visíveis”.
Segundo Neta (2010), a cidade “é uma rede de signos para a leitura de seus habitantes” e as narrativas que surgem da vivência de seus espaços são atualizações de seus usuários de fragmentos das grafias e orientações contidas nela. Essas narrativas são indícios das vivências sociais que apresentam possibilidades de interpretações desses fragmentos, como os relatos e a prática social de compartilhamento de imagens (NETA, 2017). Ao fotografar a sua experiência na cidade ou a fotografar durante sua experiência, se constrói uma narrativa imagética da cidade que apresenta uma leitura de um espaço por alguém, porém, não é uma leitura neutra, é moldada pela instrução pedagógica contida no espaço.
A sociedade atual transforma sua própria vida cotidiana em espetáculo nas redes sociais, e com isso os espaços cotidianos estão se renovando para se adaptarem e tirarem proveito dessa tendência social. As cidades, bem como as empresas utilizam a construção de cenários fotogênicos como estratégia de marketing para a construção de uma imagem de si que deseja. Essa estratégia já é utilizada na construção de grandes obras de arquitetura focando turistas desde o século passado, mas agora os cenários são simplificados e centrados no usuário e público alvo é também os habitantes dessas cidades presentes nas redes sociais. O compartilhamento de fotografias do cotidiano espetacularizado em rede reforça a materialização da instrução dada pela produção intensa e a redundância pela circulação das imagens pela melhor forma de propagar uma ideia desde os primórdios, funcionando como um “boca a boca” virtual ágil capaz de atrair cada vez mais público pelo desejo da imagem da moda. Assim a instrução pedagógica dada pelas cidades e suas imagens produz um
comportamento fotográfico espetacular a fim de firmar a história e identidade que deseja propagar.