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A cidade de Macapá, capital do estado do Amapá, é permeada por áreas
úmidas, localmente denominadas de ressacas. As ressacas são áreas de
proteção ambiental, mas são ocupadas informalmente. A partir de práticas dos
moradores, sem enfrentar diretamente o Poder Público, as ocupações ocorrem
gradativamente nas brechas do sistema, onde a fiscalização não é total. Nelas,
com elas e para elas, os moradores produzem construções em palafitas –
localizadas acima do nível da água –, passarelas para acesso e parte da
infraestrutura.
Diversos aspectos influenciam e ensinam uma maneira de habitar sobre a
ressaca: necessidades e desejos; recurso financeiro; conhecimento; valores e
normas; relações entre pessoas, objetos e com o espaço como recurso. As
necessidades e desejos mudam dependendo das pessoas e da temporalidade
– como o aumento da família, querer um ar-condicionado, tentar aumentar a
renda. Conseguir recurso financeiro restringe a compra de materiais
necessários para construção. Nesse processo, os moradores sabem os
materiais e ferramentas mais adequados a serem usados nas construções. É
comum ter carpinteiros, mas aqueles que não o são, sabem o básico do ramo,
aprendem observando, sendo ajudantes ou pedindo ajuda. Como
procedimento, constroem, primordialmente, com madeira. É um material fácil
de conseguir na cidade. Enquanto constroem e/ou mantem seus espaços, as
pessoas formam redes, nas quais há solidariedade, comparação, cooperação,
troca de favores, conflitos, imposições, regras, fiscalização. Suas relações são
(des)feitas a depender da situação, a partir do qual atendem a demandas
imediatas, como uma passarela quebrada, como também a permanências
futuras, como almejar que a passarela siga larga e não deixar que esse espaço
público vire beco estreito.
Em meio à passarela, há comportamentos e regras próprias dos moradores
que fazem um controle espacial. Os próprios moradores delimitam, ainda que
parcialmente, os lotes em dimensões regulares. Eles não almejam que a
passarela vire beco; já com becos, precisam permitir acesso de pessoas e
mobiliários. É preciso respeitar as passarelas existentes, não podendo
simplesmente fechar um caminho, mesmo que passe pelo lote. Sobre o ato de
caminhar, é proibido dirigir moto, pois sua alta velocidade deteriora mais

rapidamente a passarela de madeira. Caso a passarela esteja precária,
sugerem caminhar no meio para diminuir o risco de cair na água. Por sua vez,
no espaço como recurso, são vários elementos que mediam as relações, como:
o nível da água, quando elevado, induz os moradores a levantarem o assoalho
das casas; o solo macio embaixo da água permite fincar o esteio (pilar) da
habitação, já o solo firme, permite sua estabilização; o peixe elétrico puraquê
traz receio aos moradores de entrar na água e levar choque. Além do mais,
vale destacar: os espaços vazios com potencial construtivo no lote; os espaços
construídos que impedem novas construções; e as ruas e redes de energia que
existem na terra firme, dos quais podem ser ampliados (formalmente ou
informalmente) à ressaca. Esses aspectos supracitados influenciam em um
ordenamento próprio da ocupação.

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